A RATIFICAÇÃO DO SABER ARARIENSE

23/12/2012 18:50

Partindo de uma motivação ousada, arrojada, reflexiva e independente, foi criada a Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências - ALAC . Esta nova instituição pretende resguardar e manter o brilho das Letras, que jamais se poderá apagar; a verdade das Ciências, que identifica soluções – sempre provisórias – para as indagações e problemas nas mais diversas áreas da atuação humana; e a beleza das Artes, eternizada desde o momento da Criação, quando Deus ordenou: “Faça-se a luz”! É nessa tríade universal que a inteligência, a criatividade, a estética e o conhecimento de um povo são imortalizados.

A luz que ilumina a partir de agora a nossa cidade é a luz do saber, a luz que tira da escuridão o estulto e bane do meio humano a obscuridade intelectual e o analfabetismo, atentatórios contra a dignidade e a cidadania, contribuindo para a deterioração da sociedade. O advento da primeira Academia do saber totalmente arariense, pensada e perpetrada por ararienses, deixa-me ufano, estufa meu peito de orgulho. Esta nova agremiação se constitui em ativo e importante espaço para a divulgação das artes e da literatura locais e o reconhecimento dos valores artísticos e científicos desta terra mearinense.

Esta solícita associação nasceu do idealismo de pessoas reconhecidamente atuantes nos mais diversos setores da vida pública arariense, desde o magistério até a magistratura; do jornalismo à medicina; da história às letras e às artes, em suas mais variadas formas de expressão. São homens e mulheres marcantes e notáveis na nossa sociedade por suas atitudes exemplares, sempre em busca do crescimento intelectual, social, cultural e profissional. Como sabiamente disse o poeta angolano Agostinho Neto, “Não basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós”. Dessa forma, o alvorecer desse silogeu será também pautado na justiça e no conhecimento puro, cuja semente foi lançada e cultivada pelos nossos ancestrais nestes mais de dois séculos de existência deste pedaço de chão engastado na Baixada Maranhense.

Mas o que vem a ser uma academia? Um sacrário de sabedoria? Um templo de doutrinadores a espalhar as orações que pregam a religiosidade do conhecimento? Um ateneu agasalhando mentes iluminadas que resplandecem sabedoria? Uma academia, se quisermos seguir pensar dessa forma, será, então, um sacrário, um templo e um ateneu onde a inteligência, o conhecimento, a arte e a criatividade deverão ser permanentemente cultivados.

Etimologicamente, o termo academia remonta à Grécia Antiga, derivando do nome do herói grego Akademus. A primeira de todas as academias foi criada pelo filósofo Platão, por volta do ano 348 a.C. Era apenas uma espécie de corporação de caráter religioso, com finalidade cultural bem definida. A administração dessa Academia era exercida pelo escolarca (diretor); no caso da Academia de Platão, também conhecida como Academia de Atenas, o primeiro escolarca foi Espeusipo, e os mestres eram escolhidos entre os sócios frequentadores mais idôneos. Havia um patrimônio que assegurava as atividades e a existência da entidade. Durante nove séculos de funcionamento, a Academia de Platão passou por transformações e influências das mais diversas escolas literárias e movimentos culturais da humanidade, até ser extinta pelo Imperador Justiniano, no ano 529 d.C.

No Brasil, com a proliferação de entidades literárias, muitas cidades não reuniam literatos em número suficiente para justificar a fundação de uma confraria puramente literária. Surgiram, assim, as academias mistas de Letras, Ciências e Artes. De outro lado, certas categorias profissionais ou associativas, reunindo escritores, cientistas e artistas, passaram a criar academias específicas: médicas, militares, maçônicas, dentre outras. Tais corporações têm o escopo de reunir os seus membros, zelar pelo conhecimento e pela memória de seus patronos, difundir e valorizar os aspectos artísticos e culturais de seu povo, assim como pretende fazer agora a nossa pioneira Academia genuinamente arariense.

Torna-se evidente, a cada dia, a necessidade de se intensificar o debate sobre a realidade socioeconômica e cultural de Arari e as suas perspectivas de desenvolvimento, com a ampla participação dos diversos segmentos da sociedade. É diante desse cenário que se legitima a criação da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências, uma instituição cultural que já nasce grande e forte, sobretudo pela magnitude de seus patronos e membros, aberta a todas as correntes de pensamento, consciente da posição que lhe cabe assumir diante dos grandes questionamentos de uma Arari que se pretende notável, que se quer uma expressão cultural de eminente responsabilidade com o conhecimento, com a arte e cultura em sua plenitude. Platão, o já referido fundador da primeira academia de que se tem notícia, afirmou: “O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê”. Bons ventos de sapiência conduzirão esse barco da cultura de Arari rumo ao porto seguro de uma educação transformadora e libertadora.

Numa academia, há acadêmicos: literatos, artistas, cientistas, pesquisadores, educadores, que transmitem sentimentos e têm o dever de provocar nos cidadãos o desejo de também se envolverem na construção contínua do conhecimento e da beleza. Acadêmicos são corresponsáveis pela arte, pela cultura, pela história, pela educação, pela ciência, pelo jornalismo, encarregando-se de conquistar e estimular pessoas para o trabalho interminável de produção e reprodução do processo civilizatório. Isso se consegue unicamente com o empenho em tomar iniciativas em prol do bem-comum. Ser acadêmico, portanto, é ingressar também na vida social, é imbricar-se nas manifestações artísticas, culturais, educacionais, ambientais e políticas (visto que toda ação em a favor da pólis é essencialmente política). Tudo isso com o espírito imbuído do ideal de ampliar e difundir a beleza do conhecimento, de tornar a vida de todos mais virtuosa. Ser acadêmico é abraçar a ciência, na ânsia de perseguir a verdade de forma incansável e desprendida, embora todos saibamos que o homem não é perfeito, mas pode – e deve! – buscar a perfeição, não como fim em si mesma, mas como farol que alumie o nosso caminhar. Afinal, como diz o poeta maranhense Ferreira Gullar, “caminhos não há / mas os pés / na grama / os inventarão”!

Buscar a perfeição, portanto, não é prepotência, é apenas uma demonstração de grandeza de atitude, idealismo e amor pelo conhecimento em todas as áreas de atuação humana. Assim, buscar a perfeição poderá ser um escopo dessa admirável entidade, que chega para se fincar e ficar para sempre em nossa terra, acompanhada pelos exemplos e ideais de seus membros. A grandeza de seus patronos fará com que cada acadêmico se sinta corresponsável, como já referido, pela autonomia desta Academia. Corroborando meu raciocínio, vale citar Charles Chaplin, famoso artista britânico, que disse certa vez: “Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais”.

Se mergulharmos na história de Arari, veremos que esta cidade tem uma inegável tradição intelectual, representada por homens e mulheres que se sobressaíram no cenário brasileiro. Sobressaíram-se na política, no direito, na geografia, nas letras, nas artes plásticas, no magistério e na cultura popular de modo geral. Nesse sentido, o limiar desse sodalício cem por cento arariense ratifica o legado cultural que Arari tem oferecido ao cenário nacional. Alegria e orgulho é o que sinto com a fundação dessa auspiciosa Academia do saber. Se o memorável Monsenhor Brandt nos deixou claro que “o homem só se faz homem através da Educação”, a nossa Academia de Letras, Ciências e Artes será uma grande aliada na busca por uma educação sólida, capaz de transformar e emancipar o nosso povo.

Adenildo Bezerra

Arariense; professor

estudante de Matemática;

e estudioso da Geografia.